terça-feira, 17 de julho de 2012

Terra das Artes


Por Igor Caxambó

Poderia parecer estranho que uma companhia de palhaços chame-se Cia Pé na Terra. Por que será? Aliás, olhando por outro ângulo há algo de estranho também nas atividades da Cia Pé na Terra. Neste semestre, quem vem acompanhando pôde perceber que realizamos espetáculos (de praxe), teve oficina (também de praxe), Rua das Artes Encontro de Circo (MAR de Palhaços de praxe também) mas houveram alguns projetos um pouco diferentes como A ARTE DE GESTAR A VIDA e sua realização mais recente A OFICINA INSCRIÇÕES CORPORAIS.

Em realidade,  a Cia Pé na Terra é uma companhia de artistas que têm como seu carro chefe a arte do palhaço. A arte do palhaço engloba a diversidade e, apesar de não termos assim outra especialidade artística além da arte do palhaço, de não termos espetáculo de teatro, de dança, de música, sempre fomos abertos para aprendermos com outras artes e inclusive fazer outros trabalhos que as envolvam. Poderíamos até dizer que somos a Cia Pé na Terra das Artes.

Ainda assim, por que Pé na Terra, afinal? Pé na Terra tem um sentido difícil de ser explicado racionalmente. Este nome surgiu quando em uma apresentação em que Didi Siriguela e Caxambó apresentaram num sítio ecológico do Subúrbio Rodoviário da Cidade de Salvador, mais especificamente  no bairro de Valéria. Lembro-me bem que por um motivo ou outro resolvemos apresentar descalços, com os pés literalmente na terra, e isso estava em consonância com o cunho da apresentação que envolvia questões ecológicas e sociais, não pelo conteúdo mas pelo contexto. Naquele dia sentimos que o sentido da arte não poderia ser descontextualizado. E pra quê serve a arte? Para quem serve a arte? A arte está a serviço de algo?

Logo de saída podemos afirmar sem pestanejar que neutralidade não existe. A arte como uma mobilizadora estará a serviço de algo, alguma idéia, contexto ou filosofia. Nós da Cia. Pé na Terra optamos por estarmos a favor de princípios que nos levem a uma convivência mais saudável neste nosso planeta chamado Terra. nós estamos nele e ele anda cheio de problemas. E aí? Vamos continuar fazendo nossa arte e tá tudo bem? Vamos nos omitir?Jamais!!!

Como artistas que somos algo nos inquieta na humanidade que é uma doença na convivência, social e ambiental.Se vivemos num planeta cheio de problemas somos Cia Pé na Terra porque resolvemos voar com a arte sem tirar os pés do chão. A partir da realidade nossas ações terão significado. A arte é cura da alma, alento para o espírito e sua presença é fonte para melhorarmos nossa relação com nós mesmos até antes de levarmos benefícios sociais e ambientais em geral.

A arte do palhaço tem um sentido forte de trabalhar a saúde da convivência social e, mais ainda, de levar as pessoas a acessarem a prática de sonhar. Através do lúdico o palhaço transporta as pessoas para aquele estado de consciência feliz da infância. Todos nascemos vivos, presentes, quais fatores influenciam uma humanidade adulta cheia de neuroses e psicoses? Como estamos tratando nossas crianças? Será que estamos vivendo realmente ou estamos apenas reproduzindo tudo aquilo que é ditado pelo sistema?

Assim nos surge a ARTE DE GESTAR A VIDA, um projeto que vem trazer sentido para a arte no nosso cotidiano, em situações triviais como parir e criar filhos. Muitos estão envolvidos com a arte de forma capenga. Muitos cumprem com suas atitudes a cartilha da utilização da arte como ferramenta para fortalecer o ethos escolarizado da sociedade, para imbricar ainda mais as idéias gerais na lógica de dependência a um sistema opressor.

Nós assumimos a arte como libertação, emancipação e a construção de uma convivência com o planeta cada vez melhor. Que vivamos com arte, com graça, sem separar a arte da vida. Desde que nos entendemos como palhaços passamos a assumir uma outra maneira de viver e queremos compartilhar isso com todos. O objetivo de todos é criar um paraíso vivo na Terra? O nosso pelo menos é, e para nós, esse paraíso faz-se com a realização dos sonhos e com a cura de nossas mazelas da alma. Se mediarmos nossa convivência com a arte um dia quem sabe cheguemos lá. Se viver é uma arte precisamos de uma ARTE DE GESTAR A VIDA.



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