sexta-feira, 27 de julho de 2012

Palhaços no Parque: Cia Pé na Terra, educação e território


* Por Igor Caxambó


O palhaço é uma figura universalmente conhecida. Se reveste de várias maneiras, de acordo com a cultura, porém existe uma essência nesta arte que toca o que há de mais universal no ser humano.

  Não estamos falando aqui de nenhuma proposta filosófica iluminista de homem universal. Estamos nos referindo ao que há próprio do ser humano mesmo nas mais diferentes culturas. É claro que mesmo atingindo esta essência humana, o palhaço não fica isento de interagir com a cultura de determinado lugar,  aliás o que mostra a história é que o palhaço tem se perpetuado desde os tempos mais remotos subsistindo às diversas culturas. Mas o que seria de essencial que há neste personagem?

A arte do palhaço contém em suas características intrínsecas, potência de comunicação humana com capacidade de denunciar o erro, os sofrimentos, a opressão, o orgulho. Em outras palavras, reduz cenicamente, através da ludicidade, as grandes estapafúrdias humanas, tornando-as cômicas, risíveis. Através do riso, o palhaço propõe reflexões facilmente evitadas no cotidiano pelas pessoas. O riso catártico permite ao palhaço ir mais longe, um pouco mais a fundo, sem no entanto machucar as feridas que cicatrizaram por fora e que mantiveram-se vivas por dentro.

Neste sentido, o papel principal deste primoroso personagem, é provocar auto-conhecimento. Qual sentido teria a arte se não a de provocar? Mas para o palhaço provocar através do riso e da empatia significa conseguir permissão para ir mais a fundo. Como se relaciona um palhaço no cotidiano? De que maneira esta arte transforma aqueles que vivem profissionalmente a arte do palhaço?

A arte nos leva a sonhar, e com dizia nosso célebre poeta baiano, “sonho que se sonha só,é só um sonho, e sonho que se sonha junto é realidade”. Se é através do sonho que podemos mobilizar nossas vontades para além das crueldades, é através do medo que se imobiliza, e se estrutura uma série de sistemas de dominação do comportamento.

A cidade é lugar do sonho e do medo, onde os migrantes buscam a oportunidade e temem as consequências do desequilibro entre a oferta de oportunidades e a demanda delas. Os parques urbanos são estes lugares do sonho, pois é neles que se respira um ar diferente do cotidiano agressivo dos espaços de trânsito, da velocidade que engole. Mas também podem ser territórios do medo, pois nestes espaços onde não há pessoas, circundados por um sistema ecológico em que predomina o ser humano e suas contradições sócio-econômicas.

Nós da Cia Pé na Terra consideramos a arte do palhaço como um instrumento de educação, numa maneira de agir no espaço público e trazer as pessoas para o presente, para a reflexão e consciência de que não estamos sós, mas vivemos como terráqueos, convivendo com outros terráqueos, em relação com um ambiente que nos cerca e nos perpassa. Vivemos num mundo de sonhos prontos, construídos por um sistema capitalista que oprime o surgimento de sonhos particulares, únicos e singulares.

Este ano no mês de agosto estaremos comemorando 4 anos de ação da Cia. Pé na Terra no Parque de Pituaçu. Temos 5 anos de Companhia, veja como este território está anexado à nossa história. Os palhaços já se tornaram um patrimônio local. As pessoas já sabem que aos domingos tem palhaço no parque e as memórias afetivas da relação com o território do parque  são fortalecidas pelas lembranças  das interações vivas com esses seres bobos, inocentes, repletos de generosidade, graça e cura. 

A cada domingo podemos ir fazer nosso chapéu, curtindo de qualidade de interação social que só a arte pode oferecer e principalmente a arte do palhaço. Enraizando palhaço no Parque de Pituaçu, somos a Cia Pé na Terra, mas cada vez que cumprimos nossa função ficamos mesmo é com a cabeça nas estrelas...





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