* Por Igor Caxambó
O palhaço é uma figura
universalmente conhecida. Se reveste de várias maneiras, de acordo com a
cultura, porém existe uma essência nesta arte que toca o que há de mais universal no ser humano.
A arte do
palhaço contém em suas características intrínsecas, potência de comunicação
humana com capacidade de denunciar o erro, os sofrimentos, a opressão, o
orgulho. Em outras palavras, reduz cenicamente, através da ludicidade, as
grandes estapafúrdias humanas, tornando-as cômicas, risíveis. Através do riso,
o palhaço propõe reflexões facilmente evitadas no cotidiano pelas pessoas. O
riso catártico permite ao palhaço ir mais longe, um pouco mais a fundo, sem no
entanto machucar as feridas que cicatrizaram por fora e que mantiveram-se vivas
por dentro.
Neste sentido, o papel principal
deste primoroso personagem, é provocar auto-conhecimento. Qual sentido teria a arte se não a de
provocar? Mas para o palhaço provocar através do riso e da empatia significa conseguir permissão para ir mais a fundo. Como se relaciona um palhaço no
cotidiano? De que maneira esta arte transforma aqueles que vivem
profissionalmente a arte do palhaço?
A arte nos leva a sonhar, e com
dizia nosso célebre poeta baiano, “sonho que se sonha só,é só um sonho, e sonho
que se sonha junto é realidade”. Se é através do sonho que podemos mobilizar
nossas vontades para além das crueldades, é através do medo que se imobiliza, e
se estrutura uma série de sistemas de dominação do comportamento.
A cidade é
lugar do sonho e do medo, onde os migrantes buscam a oportunidade e temem as
consequências do desequilibro entre a oferta de oportunidades e a demanda
delas. Os parques urbanos são estes lugares do sonho, pois é neles que se
respira um ar diferente do cotidiano agressivo dos espaços de trânsito, da
velocidade que engole. Mas também podem ser territórios do medo, pois nestes
espaços onde não há pessoas, circundados por um sistema ecológico em que
predomina o ser humano e suas contradições sócio-econômicas.
Nós da Cia Pé na Terra consideramos a arte do palhaço como um instrumento
de educação, numa maneira de agir no espaço público e trazer as pessoas para o
presente, para a reflexão e consciência de que não estamos sós, mas vivemos
como terráqueos, convivendo com outros terráqueos, em relação com um ambiente
que nos cerca e nos perpassa. Vivemos num mundo de sonhos prontos, construídos
por um sistema capitalista que oprime o surgimento de sonhos particulares,
únicos e singulares.
Este ano no mês de agosto estaremos comemorando 4 anos de ação da Cia. Pé na Terra no Parque de Pituaçu. Temos 5 anos de Companhia, veja como este território está anexado à nossa história. Os palhaços já se tornaram um patrimônio local. As pessoas já sabem que aos domingos tem palhaço no parque e as memórias afetivas da relação com o território do parque são fortalecidas pelas lembranças das interações vivas com esses seres bobos, inocentes, repletos de generosidade, graça e cura.
A cada domingo podemos ir fazer nosso chapéu, curtindo de qualidade de interação social que só a arte pode oferecer e principalmente a arte do palhaço. Enraizando palhaço no Parque de Pituaçu, somos a Cia Pé na Terra, mas cada vez que cumprimos nossa função ficamos mesmo é com a cabeça nas estrelas...
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