sexta-feira, 24 de maio de 2013

Palhaço: a potência do perdedor feliz

*Por Igor Sant'Anna Caxambó
livremente inspirado em http://www.anathomaz.blogspot.com.br/

A escolarização de nossos dias impõe as relações de poder. A ameaça constante, a punição, a perda do prestígio social são alguns dos mecanismos por quais se implanta uma sociedade do medo e uma violência habitual. Assim, somos dominados pela Matrix que introjeta couraças nos corações humanos, fazendo o coração bater mais forte somente por questões como a competitividade e o sucesso a qualquer custo.

Quando nos damos com nossos filhos essas imposições aparecem para dar rasteiras em nossa socialização plena com eles. Seres inocentes, altamente potentes desafiam nossa capacidade de nos transcender e superar nossas próprias prisões corporais. Facilmente caimos nas relações de poder reproduzindo o que fizeram conosco e o que se repete há gerações.

Hoje pude acordar inspirado. Meu filho e seu amiguinho, que é nosso vizinho, irmão de comunidade, logo de manhã cedo gritavam um com o outro. Eu de cá da minha varanda, escutando eles de longe, me incomodei. Me questionei então como crianças tão inocentes aprendem a ser ferozes, a brigar como adultos?

Me incomodei mas transmutei aquele incômodo notando que ele fazia parte da minha responsabilidade por eles agirem daquele jeito um com o outro. Fui falar com eles e ao invés de re-agir aos gritos e nervosismos peguei um no colo e amorosamente perguntei o que estava havendo. Claro que ele não me respondeu nada, desceu rapidamente do meu colo, esperneando pela liberdade, e seguiu seu caminho. Foi brincar.

Isso me levou a refletir sobre a arte do palhaço que apareceu em minha vida um pouco antes de eu cair nas graças da paternidade. O palhaço é aquele que assume o lugar do perdedor para que os outros possam rir do seu ridículo. Sem contestar o egoísmo humano que dá risada das derrotas alheias, o palhaço se entrega generosamente como o perdedor feliz. 

Na realidade o palhaço é aquele que se coloca no lugar de quem perde o poder, mas assim que o faz ele encontra sua própria potência, aquela tão presente na inocência das crianças. O caminho para achar um palhaço pessoal é um caminho de desescolarização, de achar a coragem, de romper as couraças de desinvestir na competitividade e investir na generosidade cooperativa.

 O palhaço assume o lugar do perdedor feliz e quando faz isso ele simplesmente tira o tapete da equação perdedor-vencedor. Quando há um perdedor feliz simplesmente não há um vencedor. Por isso a inocência das crianças são os nossos mestres nessa caminhada.