terça-feira, 4 de agosto de 2015

Cia Pé na Terra: 8 anos de palhaçaria e desescolarização

Por Igor Sant'Anna Caxambó



Estamos inteirando 8 anos de Cia Pé na Terra. Isso me lembra nos idos tempos quando eu e Carla de Miranda (Didi Siriguela) começamos nosso trabalho, fomos morar em Pituaçu e começar um trabalho no Parque de Pituaçu. Naquela época decidimos viver de nossa arte, era uma grande salto. Estávamos escravos de empregos que nos oprimiam e o valor da liberdade nos despertava através da arte do palhaço.





Formulamos nossa estratégia, com algum medo, mas um encorajando o outro, nos casamos. Fomos morar juntos. O dinheiro do chapéu era nossa única garantia para pagar o aluguel. Não éramos tão experientes, mas confiamos e nos jogamos. 

Não demorou tanto e ficamos grávidos. Uma outra história. Tudo muda. Começamos a nos interessar pela educação, mas nossa forma de ver o mundo através do que começamos a viver (arte de rua, palhaçaria) nos impulsionava a criar outra realidade de vida, de criar um filho livre dessas opressões tão crueis do sistema. Descobrimos a desescolarização e tudo passou a se encaixar.

A arte do palhaço foi e tem sido uma ferramente fabulosa para desfazer os malefícios da escolarização sobre nosso corpo. A escola nos rouba a nossa corporeidade, como diz Ana Thomaz (procurem o blog dela!!). O palhaço pode nos devolver. Mas a partir do momento em que fomos associando uma coisa a outra, não na teoria, mas com experimentações práticas cotidianas, a coisa te se encaixado mais e mais uma na outra.

Só na teoria não adianta. às vezes falamos tão bem de algo como papagaios. às vezes fazemos isso com idéias super revolucionárias, mas não conseguimos usar essas idéias completamente, na prática pra reformular nossas emoções. Sempre é uma questão de escolha. E mudar sempre dá um trabalho a mais.

De cara uma associação: Se não usamos os desafios que as crianças nos propõem para evoluirmos, acabamos submetendo elas a relações de poder crueis, muito aceitas por nós. O mesmo acontece com o palhaço. Se não usamos sua capacidade criadora submetemos ele processos escolarizantes. Limitamos sua ação nas nossas vidas. Basta não usar, basta se acomodar e a mente mantém a gente nos paradigmas antigos, escolarizados, capitalistas.

Descobrimos na prática que um dos princípios mais crueis da escolarização é incluir nas nossas crenças e existências a escassez enquanto princípio de existência. A escolarização nos amedronta, pessoas destemidas não são facilmente controláveis. Não precisamos de ameaças externas. A ameaça está implantada dentro de nós.

 O sistema se auto regula com pessoas acreditando que devem copiar o modelo capitalista pra sobreviver. Ou se submete ao emprego ou copia o empresário. Esquece de usar seu poder criador para expandir sua arte, sua ação. Necessidades desnecessárias de consumo são implantadas no terreno das nossas baixas estimas. Nossos desejos foram programados e temos que aprender aina como viver fora da competitividade.

O que experienciamos nesses 8 anos, de maneira crescente e cada vez mais avassaladora, é a possibilidade real de viver a generosidade, a irmandade, a abundância. Isso é verdadeiramente liberdade. Isso nos liberta daqueles paradigmas de uma cultura escolarizada que vai contra o que há de mais belo no ser humano. 

Com o palhaço cultivamos o que há de mais belo em nós, nossa pura presença, nossa pura emoção. Devemos sim submeter nossa vida às nossas necessidades emocionais. Descobrimos que abundância não é excesso de dinheiro, mas ter aquilo de que realmente precisamos.

A escolarização nos deturpa a consciência e nos impõe desejos ilusórios. Não enxergamos nossas necessidades verdadeiras, humanas. Através de arte do palhaço transmutamos nossa necessidade de trabalho em função. Estamos cumprindo uma função social, muito linda por sinal. O trabalho é em nós...já se foram 8 anos e ele continua...






2 comentários:

  1. Um belo texto que nos permite a reflexão sobre o processo opressor da escolarização e de muitas outras questões que nos são impostas e alienadoras. Certamente a mudança que partiu de vcs atingiu outras vidas motivando mudanças, certamente o mundo não será mais o msm. Parabéns pela coragem!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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