Por
Igor Sant'Anna Caxambó
Estamos
inteirando 8 anos de Cia Pé na Terra. Isso me lembra nos idos tempos
quando eu e Carla de Miranda (Didi Siriguela) começamos nosso
trabalho, fomos morar em Pituaçu e começar um trabalho no Parque de
Pituaçu. Naquela época decidimos viver de nossa arte, era uma
grande salto. Estávamos escravos de empregos que nos oprimiam e o
valor da liberdade nos despertava através da arte do palhaço.
Formulamos nossa estratégia, com algum medo, mas um encorajando o outro, nos casamos. Fomos morar juntos. O dinheiro do chapéu era nossa única garantia para pagar o aluguel. Não éramos tão experientes, mas confiamos e nos jogamos.
Não
demorou tanto e ficamos grávidos. Uma outra história. Tudo muda.
Começamos a nos interessar pela educação, mas nossa forma de ver o
mundo através do que começamos a viver (arte de rua, palhaçaria)
nos impulsionava a criar outra realidade de vida, de criar um filho
livre dessas opressões tão crueis do sistema. Descobrimos a
desescolarização e tudo passou a se encaixar.
Só na
teoria não adianta. às vezes falamos tão bem de algo como
papagaios. às vezes fazemos isso com idéias super revolucionárias,
mas não conseguimos usar essas idéias completamente, na prática
pra reformular nossas emoções. Sempre é uma questão de escolha. E
mudar sempre dá um trabalho a mais.
De
cara uma associação: Se não usamos os desafios que as crianças
nos propõem para evoluirmos, acabamos submetendo elas a relações
de poder crueis, muito aceitas por nós. O mesmo acontece com o
palhaço. Se não usamos sua capacidade criadora submetemos ele
processos escolarizantes. Limitamos sua ação nas nossas vidas.
Basta não usar, basta se acomodar e a mente mantém a gente nos
paradigmas antigos, escolarizados, capitalistas.
Descobrimos
na prática que um dos princípios mais crueis da escolarização é
incluir nas nossas crenças e existências a escassez enquanto
princípio de existência. A escolarização nos amedronta, pessoas
destemidas não são facilmente controláveis. Não precisamos de
ameaças externas. A ameaça está implantada dentro de nós.
O
sistema se auto regula com pessoas acreditando que devem copiar o
modelo capitalista pra sobreviver. Ou se submete ao emprego ou copia
o empresário. Esquece de usar seu poder criador para expandir sua
arte, sua ação. Necessidades desnecessárias de consumo são
implantadas no terreno das nossas baixas estimas. Nossos desejos
foram programados e temos que aprender aina como viver fora da
competitividade.
O que
experienciamos nesses 8 anos, de maneira crescente e cada vez mais
avassaladora, é a possibilidade real de viver a generosidade, a
irmandade, a abundância. Isso é verdadeiramente liberdade. Isso nos
liberta daqueles paradigmas de uma cultura escolarizada que vai
contra o que há de mais belo no ser humano.
Com o
palhaço cultivamos o que há de mais belo em nós, nossa pura
presença, nossa pura emoção. Devemos sim submeter nossa vida às
nossas necessidades emocionais. Descobrimos que abundância não é
excesso de dinheiro, mas ter aquilo de que realmente precisamos.
A
escolarização nos deturpa a consciência e nos impõe
desejos ilusórios. Não enxergamos nossas necessidades verdadeiras,
humanas. Através de arte do palhaço transmutamos nossa necessidade
de trabalho em função. Estamos cumprindo uma função social, muito
linda por sinal. O trabalho é em nós...já se foram 8 anos e ele
continua...
Um belo texto que nos permite a reflexão sobre o processo opressor da escolarização e de muitas outras questões que nos são impostas e alienadoras. Certamente a mudança que partiu de vcs atingiu outras vidas motivando mudanças, certamente o mundo não será mais o msm. Parabéns pela coragem!
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