quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Pé de Circo no Parque 2015

O Projeto Pé de Circo no Parque da Cia Pé na Terra, foi aprovado no Edital Arte em Todas Parte Ano II da Fundação Gregório de Matos. No 1° semestre de 2015 realizamos ações de mediação cultural em 4 territórios da cidade de Salvador incluindo parques e bairros do entorno (Parque de Pituaçu, Abaeté, Joventino Silva e São Bartolomeu) cujo foco dessa mediação foi a formação na arte do palhaço como um exímio instrumento de educação social e cidadã nas comunidades periféricas da cidade.

Foram oferecidas 40 horas do curso de palhaço-educador, formamos assim 51 jovens e adultos que se envolveram em ações formativas como espetáculos de rua e cortejos Picadeiros Andantes. Essas ações permitiram o acesso direto desses jovens e adultos ao maravilhoso universo da palhaçaria, além de impactar com um sucesso de público de mais de 6000 pessoas, com grande repercussão nas comunidades em que foram executados.

O principal ganho do projeto foi a criação de redes dos alunos que foram formados, principalmente entre Pituaçu e Abaeté. Todos os profissionais envolvidos constataram a importância dessa formação para comunidades carentes e todos tinham alguma constatação através de depoimentos em aulas de mudanças que ocorreram na comunidade, sendo a mais marcante a de uma aluna se referindo a um aluno envolvido com tráfico que sempre andou nas ruas de seu bairro armado, assustando as pessoas, que após o curso esse aluno está sempre com nariz brincando com as crianças efetivando-se assim uma mudança de clima na localidade em que reside.

Além disso através desse projeto apoiado pelo edital da Fundação Gregório de Mattos conseguimos rearticular o MAR de Palhaços, um movimento de palhaçaria de rua soteropolitano que em uma mesa redonda discutiu a possibilidade de atuação em rede dos palhaços de rua.

Além do sucesso de público e do impacto artístico, social e educacional, o projeto Pé de Circo no Parque também gerou um impacto científico. Atualmente, os resultados do projeto estão sendo o principal objeto de estudo da pesquisa de doutorado  vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia. A tese é de Igor Sant'Anna Caxambó, fundador da Cia Pé na Terra que aborda em seu estudo o conceito de palhaço-educador e sua relação com as práticas sociais de educação para a sustentabilidade nos parques metropolitanos de Pituaçu e Abaeté.


PÉ DE CIRCO NO PARQUE: AÇÃO QUE NASCEU DE UMA AÇÃO INDEPENDENTE DE RUA

Desde 2008 a Cia Pé na Terra trabalha no intuito de enraizar a arte do palhaço no Parque de Pituaçu, fazendo apresentações semanais, gerando cultura de arte de rua. Hoje sabemos que o público já conhece o parque como um lugar onde tem apresentações de palhaços. depois do Pé de Circo no Parque vislumbramos a possibilidade de isso se fortalecer ainda mais em Pituaçu e de se expandir para outros territórios. Formando outros palhaços de rua com tino educativo sabemos que estamos contribuindo com a classe circense, com a arte de rua e com os espaços públicos.

É como plantarmos uma árvore, um “PéDe Circo” no parque e esse “PéDe Circo” crescendo vem dar frutos e cada vez mais o povo “PéDe Circo” nos parques. Mesmo com nosso esforço e de outros artistas sabemos que que somos poucos fazendo arte de rua em Salvador. Com nossa experiência nos damos conta o quanto nossa ação surtiu efeito, quanto o nosso povo carece de arte de rua e quanto é importante uma programação de artistas de rua em espaços públicos principalmente com o encantamento que o circo pode produzir.

Os palhaços da Cia. Pé na Terra se tornaram marca patrimonial do território e o Parque de Pituaçu ficou marcado como uma referência na cidade de Salvador onde as pessoas poderiam ir e encontrar o circo, além das belezas naturais do parque.

Dentro de 8 anos de existência da Cia. Pé na Terra, já são 7 anos com essa ação que visa fortalecer o espaço público do Parque de Pituaçu e contribuir para o sentimento de pertencimento das pessoas a um patrimônio socioambiental importante para a qualidade de vida dos habitantes da cidade de Salvador. Em 2010 juntamente com outros grupos de palhaços a Cia Pé na Terra funda o MAR (Movimento Abre-Rodas de Palhaços) que nasce de uma ação coletiva com cerca de 15 palhaços no Parque de Pituaçu, gerando uma metodologia própria de formação de palhaçaria de rua. Temos com essa formação a oportunidade de crescimento desse movimento e de assim fazer história nos espaços públicos da cidade.

Por outro lado notamos o potencial para arte de rua que os parques tem, justamente por ser um espaço público que atrai tanto moradores das comunidades que habitam o entorno quanto visitantes em geral, moradores de outros bairros e turistas.

Nesses 7 anos vimos notando a necessidade de ir além da realização de espetáculos. Para manter uma continuidade é importante mobilizar a população local que habita o entorno do parque gerando ações formativas no intuito de deixar multiplicadores dessa ação agindo cotidianamente e em rede para manter uma programação permanente nesses espaços públicos. Percebemos que depois de plantar o Pé de Circo são necessários os multiplicadores para contribuir com o enraizamento do circo nos espaços públicos.




terça-feira, 4 de agosto de 2015

Cia Pé na Terra: 8 anos de palhaçaria e desescolarização

Por Igor Sant'Anna Caxambó



Estamos inteirando 8 anos de Cia Pé na Terra. Isso me lembra nos idos tempos quando eu e Carla de Miranda (Didi Siriguela) começamos nosso trabalho, fomos morar em Pituaçu e começar um trabalho no Parque de Pituaçu. Naquela época decidimos viver de nossa arte, era uma grande salto. Estávamos escravos de empregos que nos oprimiam e o valor da liberdade nos despertava através da arte do palhaço.





Formulamos nossa estratégia, com algum medo, mas um encorajando o outro, nos casamos. Fomos morar juntos. O dinheiro do chapéu era nossa única garantia para pagar o aluguel. Não éramos tão experientes, mas confiamos e nos jogamos. 

Não demorou tanto e ficamos grávidos. Uma outra história. Tudo muda. Começamos a nos interessar pela educação, mas nossa forma de ver o mundo através do que começamos a viver (arte de rua, palhaçaria) nos impulsionava a criar outra realidade de vida, de criar um filho livre dessas opressões tão crueis do sistema. Descobrimos a desescolarização e tudo passou a se encaixar.

A arte do palhaço foi e tem sido uma ferramente fabulosa para desfazer os malefícios da escolarização sobre nosso corpo. A escola nos rouba a nossa corporeidade, como diz Ana Thomaz (procurem o blog dela!!). O palhaço pode nos devolver. Mas a partir do momento em que fomos associando uma coisa a outra, não na teoria, mas com experimentações práticas cotidianas, a coisa te se encaixado mais e mais uma na outra.

Só na teoria não adianta. às vezes falamos tão bem de algo como papagaios. às vezes fazemos isso com idéias super revolucionárias, mas não conseguimos usar essas idéias completamente, na prática pra reformular nossas emoções. Sempre é uma questão de escolha. E mudar sempre dá um trabalho a mais.

De cara uma associação: Se não usamos os desafios que as crianças nos propõem para evoluirmos, acabamos submetendo elas a relações de poder crueis, muito aceitas por nós. O mesmo acontece com o palhaço. Se não usamos sua capacidade criadora submetemos ele processos escolarizantes. Limitamos sua ação nas nossas vidas. Basta não usar, basta se acomodar e a mente mantém a gente nos paradigmas antigos, escolarizados, capitalistas.

Descobrimos na prática que um dos princípios mais crueis da escolarização é incluir nas nossas crenças e existências a escassez enquanto princípio de existência. A escolarização nos amedronta, pessoas destemidas não são facilmente controláveis. Não precisamos de ameaças externas. A ameaça está implantada dentro de nós.

 O sistema se auto regula com pessoas acreditando que devem copiar o modelo capitalista pra sobreviver. Ou se submete ao emprego ou copia o empresário. Esquece de usar seu poder criador para expandir sua arte, sua ação. Necessidades desnecessárias de consumo são implantadas no terreno das nossas baixas estimas. Nossos desejos foram programados e temos que aprender aina como viver fora da competitividade.

O que experienciamos nesses 8 anos, de maneira crescente e cada vez mais avassaladora, é a possibilidade real de viver a generosidade, a irmandade, a abundância. Isso é verdadeiramente liberdade. Isso nos liberta daqueles paradigmas de uma cultura escolarizada que vai contra o que há de mais belo no ser humano. 

Com o palhaço cultivamos o que há de mais belo em nós, nossa pura presença, nossa pura emoção. Devemos sim submeter nossa vida às nossas necessidades emocionais. Descobrimos que abundância não é excesso de dinheiro, mas ter aquilo de que realmente precisamos.

A escolarização nos deturpa a consciência e nos impõe desejos ilusórios. Não enxergamos nossas necessidades verdadeiras, humanas. Através de arte do palhaço transmutamos nossa necessidade de trabalho em função. Estamos cumprindo uma função social, muito linda por sinal. O trabalho é em nós...já se foram 8 anos e ele continua...